segunda-feira, 30 de maio de 2016

Equoterapia da Uenp de Bandeirantes atende alunos da Apae

Toda sexta-feira, o pequeno Victor Hugo Dutra Braga, de 3 anos, sai de Barra do Jacaré e viaja 30 km até Bandeirantes. O destino é a Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp), campus Luiz Meneghel, onde ele faz sessões de equoterapia. Aluno da Apae de Andirá (a 11 km de Barra do Jacaré), o garoto tem dificuldades motoras e ainda não desenvolveu a fala. Gisele Dutra Braga, mãe de Victor Hugo, explica que o problema foi causado por falta de oxigenação no cérebro quando ele nasceu. Ela conta que a equoterapia (a utilização de cavalos com finalidade terapêutica) foi uma recomendação médica. "O médico disse que o melhor tratamento para ele seria a equoterapia. Eu fiquei preocupada, porque não sabia nem onde procurar o tratamento. Aí, quando começou o projeto aqui na universidade, a Apae encaminhou o Victor", conta a Gisele.

O Núcleo de Equoterapia "Dr. Raul Hidetoci Mioshi" da Uenp funciona há três meses. É uma parceria entre a universidade e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) das cidades de Andirá, Bandeirantes e Itambaracá. A Uenp cede o espaço e os animais, que são tratados e cuidados pelos estudantes do curso de Medicina Veterinária. Já as Apae’s oferecem os profissionais responsáveis pelo atendimento: dois fisioterapeutas, uma fonoaudióloga e uma psicóloga. O professor Francisco Armando de Azevedo Souza, do curso de Veterinária, foi um dos idealizadores do projeto. "Quando estive no Conselho Federal de Medicina Veterinária, trabalhando no programa de Residência, conheci várias Apae’s e elas já desenvolviam projetos nesse sentido. Foi isso que nos motivou a fazer o mesmo por aqui. E tem dado muito certo", comemora. "Projetos desse porte têm uma demanda muito grande. Tanto que há uma fila imensa de pacientes à espera", comenta.

Atualmente, o Núcleo de Equoterapia atende 57 crianças, todas encaminhadas pelas Apae’s. "São crianças com autismo, paralisia cerebral, síndrome de Down e algumas síndromes diferenciadas como as de ‘la Tourette’ e a de ‘Prader-Willi’. Mas temos também alunos que vêm apenas com atraso motor e cognitivo", explica Maria Lígia Gomes Gonçalves, psicóloga da Apae de Bandeirantes e que atende no projeto. As atividades desenvolvidas com os alunos sobre o animal ajudam a melhorar a qualidade de vida deles. "A melhora é muito visível. Nós temos crianças aqui que estavam muito comprometidas. Desciam do carro carregadas pelos pais. Hoje, elas já conseguem fazer alguns movimentos, como, por exemplo, estender a mão para descer do carro e subir no cavalo. Melhoraram o equilíbrio e a coordenação motora. O tratamento faz com que, aos poucos, elas consigam superar obstáculos que pareciam impossíveis. E ver isso acontecendo em apenas três meses de tratamento é muito satisfatório", conta a fisioterapeuta Suelen Tanaka dos Santos.

Cada sessão dura, em média, 40 minutos. Os alunos são colocados sobre o cavalo e fazem um trajeto pelas ruas do campus. Durante o percurso, fisioterapeutas, psicóloga e fonoaudióloga desenvolvem atividades específicas para exercitar áreas que os alunos precisam desenvolver. A simples marcha do cavalo já faz com que o aluno exercite a musculatura. "O cavalo é o animal que tem a marcha mais parecida com o jeito de andar do ser humano. Por isso, ao andar a cavalo, é como se a criança estivesse caminhando. Porque a marcha do animal força a criança a exercitar a postura, o equilíbrio e até mesmo os músculos do rosto. Na prática, a atividade motora da criança se harmoniza com os movimentos do animal, e isso ajuda tanto na coordenação motora, quanto na fala", explica a fonoaudióloga Lígia Bonacim, que atende as Apae’s de Andirá e Bandeirantes.

Os alunos também ficam satisfeitos. Maria Eduarda de Andrade, de 10 anos, tem paralisia cerebral e, há pouco mais de um mês, começou a fazer equoterapia na universidade. A mãe, Keyla de Andrade, disse que a filha fica ansiosa pelas sessões. "Ela gosta. Gostou já no primeiro dia. E como ela faz a sessão às sextas-feiras, sempre que vai se aproximando o dia, pergunta se falta muito para a equoterapia", conta. Além de auxiliar no desenvolvimento motor e na fala, a equoterapia também ajuda na socialização dos pacientes. A psicóloga Maria Lígia Gomes Gonçalves cita o exemplo dos alunos autistas. "Eles têm muita dificuldade com contato, por causa da sensibilidade. E aqui eles desenvolvem uma relação de afeto com o cavalo que ajuda muito nisso. Naturalmente, eles passam a buscar o contato não só com o cavalo, mas também com as pessoas, familiares. E isso traz uma satisfação imensa para os pais dessas crianças."

Para o professor Francisco Armando de Azevedo Souza, o Núcleo de Equoterapia da Uenp também oferece uma oportunidade de integração entre os vários cursos da universidade. "A ideia é envolver as diferentes áreas da universidade, principalmente, os cursos voltados para a área da saúde, como Fisioterapia, Enfermagem, Educação Física, e Odontologia. E, assim, desenvolver projetos de pesquisa e extensão. Até porque, como a equoterapia não trabalha apenas uma área específica do corpo, o leque de pesquisa é muito grande. Além, é claro, do aprendizado que os profissionais das Apae’s têm a nos oferecer", disse.

O professor enfatiza que o caráter social do projeto é que faz toda diferença. "É claro que é fundamental toda a possibilidade de pesquisa e conhecimento que esse projeto pode trazer. Mas a grande verdade é que não tem como conviver num trabalho como esse e não melhorar como ser humano. Não tem como sair daqui sem ser um melhor pai, um melhor professor, um melhor aluno. Porque é um ensinamento muito rico", partilha. (Redação e foto Folha de Londrina)

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